BPI Capacitar - page 2

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ais do que servir as populações carenciadas, o Cen-
tro Comunitário Paroquial da Ramada, no conce-
lho de Odivelas, sempre se orgulhou de unir to-
da a comunidade. Para além dos mais de 90 funcionários
da instituição, dezenas de voluntários dão o seu contributo
diário para uma obra social com mais de 600 beneficiários.
A somar às valências “tradicionais” – creche, ATL, jardim
de infância, centro de dia e apoio domiciliário –, o Centro
Comunitário Paroquial da Ramada tem-se destacado pela
criação de serviços inovadores, como um centro de acolhi-
mento temporário para bebés em situação de vulnerabili-
dade. Em 2005 abriram uma Loja da Solidariedade, onde
se trocam bens e equipamentos para crianças dos 0 aos 10
anos – de fraldas a carrinhos de bebé. Um banco de ajudas
técnicas, que disponibiliza desde camas articuladas a sim-
ples muletas, é outra das valências criadas nos últimos anos.
Em 2006, a Carta Social do concelho revelou a carência
de respostas à população com deficiência. Dependentes so-
bretudo das famílias, estes cidadãos não tinham respostas à
altura – deixando em aberto o que lhes aconteceria quando
os pais deixassem de poder cuidar deles como antes. “O pro-
jeto Santa Teresinha nasce daqui, desta vontade de respon-
der à aflição dos pais”, conta o padre Arsénio Isidoro, pároco
da Ramada e um dos dinamizadores do Centro Paroquial.
O trabalho com a deficiência tem vindo a evoluir desde
essa altura. Mas, para além das respostas sociais, faltava dar
às pessoas com deficiência a capacidade de, tanto quanto
possível, se autonomizarem e se valorizarem. O projeto “Pe-
la Cozinha a Inclusão” vem dar resposta a essa necessidade.
Vencedor do primeiro prémio no BPI Capacitar, o projeto
assenta na criação, com todo o equipamento, de uma cozi-
nha industrial, que vai servir o novo polo social do Centro,
onde estão incluídas respostas específicas para a população
com deficiência, como um lar residencial, um centro de ati-
vidades ocupacionais, residências autónomas e serviço de
apoio domiciliário.
centro paroquial da ramada odivelas
Alimentar a inclusão
É
um trabalho antigo, mas que se temmantido sempre
inovador. O Centro de Educação Especial Rainha D.
Leonor, nas Caldas da Rainha, nasceu em 1979, voca-
cionado para ajudar crianças e jovens comdeficiência a terem
a educação a que tinham direito. Desde então, as valências
da instituição foram acompanhando a evolução das neces-
sidades de vida dos seus utentes e hoje a oferta centra-se em
valências como um centro de atividades ocupacionais (que
acolhe 80 pessoas) e um serviço de reabilitação profissional.
Alémde capacitaremas pessoas para omercado de trabalho
e fazerem a ligação com o mundo empresarial, os técnicos da
instituição fazem um acompanhamento próximo já depois
da colocação da pessoa, para garantir que tudo corre sobre
rodas no novo emprego. Mas a criação de oportunidades de
integração profissional não se faz apenas da porta para fora.
O Centro de Educação Especial Rainha D. Leonor emprega
hoje mais de 20 pessoas nas suas próprias instalações, asse-
gurando serviços de restauração, lavandaria e jardinagem,
entre outros. A explicação é simples. “A dimensão humana
exige a concretização de vários domínios de vida”, explica
a presidente do Centro, Maria João Domingos. “A realização
profissional faz parte da nossa realização pessoal, e a reali-
zação pessoal traz qualidade de vida e bem-estar”. Por isso
mesmo, a integração profissional das pessoas deficientes não
pode ser descurada. “É fundamental sermos capazes de criar
os meios e as condições para que todas as pessoas tenham
a afirmação do seu potencial e a valorização do que são ca-
pazes de fazer”, aponta Maria João Domingos.
Valor social, valor económico
A pensar no potencial dos seus utentes, mas também na pró-
pria sustentabilidade do seu trabalho, a instituição iniciou
em 2001 um projeto inovador, em parceria com a Câmara
Municipal das Caldas da Rainha e com o apoio de um agri-
cultor local. Foi nesse ano que o Centro começou a produzir
flor de corte para venda, integrando trabalhadores com de-
ficiência. O negócio tem dado excelentes resultados, crian-
do riqueza para a instituição e autonomia e valorização pa-
ra os seus utentes.
Parcerias com grandes cadeias de distribuição, como o
Pingo Doce ou o Lidl, têm permitido escoar a flor de corte
produzida nas Caldas, mas criaram também a necessidade
de modernizar a produção. É aqui que surge o BPI Capacitar.
O primeiro prémio obtido este ano vai ser investido na cons-
trução de uma nova estufa e na modernização das estufas
existentes, de forma a aumentar a produção e modernizar
os sistemas de aquecimento, rega e fertilização.
Não se trata só de melhorar a rentabilidade do negócio.
O projeto “FloresSER” vai beneficiar diretamente quase 70
utentes, que aqui encontramuma via para a realização profis-
sional. “Sabemos que conseguiremos ter serviços de melhor
qualidade se também formos capazes de gerar algum valor”,
explica Maria João Domingos. Seguindo a mesma lógica, a
transformação do refeitório da instituição num restaurante
aberto à comunidade já tinha sido contemplado na primeira
edição do BPI Capacitar. Agora, repete-se a distinção. Porque
são as boas ideias que geram os bons resultados.
Centro de Educação Especial Rainha D. Leonor, Caldas da Rainha
Solidariedade fértil
Como responder às necessidades de alimentação de 400 utentes e, ao mesmo tempo, promover a integração
profissional de pessoas com deficiência? Com uma cozinha inclusiva, num projeto inovador
TERRENOFÉRTIL
No Centro de Educação
Especial Rainha D. Leonor, a produção de flores
dá um impulso inovador à integração.
Nas Caldas da Rainha, um projeto de integração exemplar acaba de receber novo fôlego. O trabalho do Centro
de Educação Especial Rainha D. Leonor pode agora “FloresSER”
CASAABERTA
A filosofia do Centro Comunitário Paroquial da Ramada é
inclusiva e participativa. Funcionários, voluntários e utentes das várias valências
do centro partilham tarefas e responsabilidades. E gozamemconjunto os
frutos de um trabalho bem feito e assumido por todos. Aqui, o foco é sempre na
comunidade.
“Fazer bemo bem”
Mas porque a inclusão se faz de mãos dadas com a comuni-
dade, a nova cozinha, capaz de fornecer 400 refeições diárias,
estará virada para o mercado: além de refeições
take away
,
o Centro Comunitário e Paroquial da Ramada vai criar um
produto commarca registada – os Biscoitos de Santa Teresi-
nha – que será produzido aqui, por pessoas com deficiência.
É um investimento na integração profissional e na autonomia
destes utentes. Mais do que isso, é uma forma de lhes dar a
oportunidade de retribuírem ao Centro a ajuda que dele re-
cebem, contribuindo para a sustentabilidade da instituição.
Esta lógica de entreajuda faz parte do ADN do Centro Co-
munitário e Paroquial da Ramada. Aqui, todos são úteis. E
é isso que as dezenas de voluntários regulares levam da sua
colaboração. “As pessoas, quando estão a dar, também estão
a receber. Esse é o grande segredo”, explica Cristina Gabriel,
outra das responsáveis do Centro. “É um espírito que se vive
– de dar sem esperar receber”, corrobora o pároco.
Nesse sentido, o apoio do BPI Capacitar é mais um contri-
buto para uma missão comum. “É uma parceria no serviço”,
explica o pároco da Ramada. “Uma parceria no fazer bem o
bem” – porque até a solidariedade tem de ser bem feita para
ser eficaz. É essa a importância deste prémio. “Só o conse-
guimos fazer com a ajuda de parceiros como o BPI”, aponta
Arsénio Isidoro. “Juntos podemos mais.”
1.º
pRÉMIO
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